As cuecas brancas de Lana del Rey


Lana canta. Essa é  a maior evidência da passagem de Lana del Rey pelo Super Bock Super Rock. Não canta nem melhor nem pior que outras moças dos tops. E fuma. Durante as canções, com elegância, aparentemente inalando.
Lana del Rey é um dos maiores incómodos da pop recente. Talvez pelo manifesto equívoco com que se apresentou. Tudo em Lana parece remeter para territórios indie, alternativos, quando, bem vistas as coisas, aquilo é mais pop que outra coisa. Pop que evidentemente bebeu na indie e em coisas mais sofisticadas, naquele processo incessante de aglutinação e domesticação das vanguardas pela cultura mainstream.
No primeiro disco, Lana apresenta-se como alma torturada (Born to Die), mas alma em farrapos num corpo lindo, numa música de estúdio perfeita, num produção global toda ela muito certinha. Não bate a bota com a perdigota.
As apresentações do disco nas TV americanas não poderiam ter sido mais desastrosas e ainda hoje o Youtube é testemunha do espanto geral - a tal miúda gira de voz colocada não sabia, afinal, cantar.
Pois parece que sim, canta mesmo. QB.
Do Meco sobrevive a ideia de que a miúda tem potencial, mesmo cénico. É tudo muito estudado? Ah pois é. Mas não é sempre assim? Mesmo encenado, não deixou de surpreender o relacionamento muito próximo com o público. Se souber e puder crescer - e percebe-se a léguas que estamos perante alguém ainda verde, mas com vontade de - , é capaz de ir lá.
A presença descontraída em palco - uma descontracção estudada, feita para seduzir - fez com que a equipa de TV do recinto nos mostrasse, em dois fugazes momentos, as cuecas de Lana nos grandes ecrãs. São brancas!

(Ao contrário de Madonna, Lana não exibe as cuecas deliberadamente - ou não faz marketing a partir desse gesto. A exposição dessa intimidade não estava no programa, claramente, tendo antes resultado do puro acaso, de uma brisa mais excitada ou de um operador de câmera atento/atrevido. Essa exposição involuntária das cuecas é o toque naturalista que encaixa na perfeição - pelo efeito de legitimação - na artificialidade ostensiva da música e da presença de Lana.)

Na foto: outra perspectiva (no recinto, tivemos imagens frontais) das cuecas de Lana, por Rita Carmo, para a Blitz.

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