muito interessante, este texto de joão lopes,  no dn de ontem.
[food for thought genuíno. o joão lopes é, aliás, das raras (raríssimas, quase único, na verdade) pessoas a pensar e a problematizar o espaço público, especialmente a tv, esse vórtice do espaço público dos nossos dias.]

alguns apontamentos, soltos:
1. tradicionalmente, a esquerda tende a valorizar a cultura ao nível governamental (ministério versus secretaria de estado);
2. essa atitude nem sempre é consequente ao nível do desenvolvimento das políticas. o último verdadeiro ministro da cultura foi manuel maria carrilho (sim, esse, o execrável...), e isso diz tudo;
3. como o joão nota, esta é uma das áreas mais delicadas da governação;
4. é muito ténue a linha que pode separar um bom ministro da cultura de um ideólogo do regime (tipo antónio ferro). carrilho - helás -, especialmente na deriva pós-ministro, é disso um excelente mau exemplo;
5. a forma aparentemente displicente - a ausência, como nota o joão - com que a direita gere a cultura tem rendido. basta deixar funcionar o mercado para que certos valores culturais/comerciais se imponham;
6. a esquerda tende a gerir a cultura com má consciência. porque a cultura é diversidade e liberdade, mas a esquerda tende a ter uma visão totalitária da cultura. uma visão mais instrumental, se quisermos usar um eufemismo;
7. acresce que, hoje (sempre assim foi, mas não se notava tanto), gerir cultura é também gerir dinheiro e isso, no meio cultural, é quase sempre fatal;
8. a cultura - coisa que os agentes culturais não entendem - passa hoje muito pela televisão, enquanto instrumento formador de opinião, sensibilidade, etc;
9. os governos (o estado) têm ainda alguns instrumentos poderosos para gerir o espaço público: a legislação, a propriedade, a regulação;
10. não havendo o alibi da falta de instrumentos, o espaço cultural só ficará fora da alçada da esfera política se os políticos assim o quiserem. isso é, em si mesmo, uma atitude política;
11. outra será uma atitude (mais) interventiva. o problema - e era aqui que queria chegar - é que não se vislumbra no espaço público português muita gente que pense estas coisas com sentido político. uma das excepções é precisamente o joão lopes.

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